Saturday, October 8, 2011

Quem te viu, quem te vê, Desirée

Apesar da minha indiferença e ausência de expectativa, acreditava na possibilidade de o ensaio de Desirée Oliveira, clicado por Marlos Bakker, ser um pouco menos monótono. É assim que o classifico, como monótono, depois de folheá-lo algumas vezes. O ensaio é, sim, respeitável, do contrário não teriam leitores que o tivessem aprovado, mas para mim está longe de ser considerado relevante. O que o condenou, sob meu ponto de vista, foi o fato de a matéria ser composta por 90% de fotos feitas dentro do trem. Resultado: uma profusão de tons de marrom onde a Mulata Difícil encontra-se quase que totalmente camuflada. Ninguém reparou nisso? Ninguém, durante a sessão de fotos, percebeu que era necessário explorar muito bem a parte externa da locação e priorizá-la na edição?

Dentre outras coisas, faltou cor e contraste no ensaio. É claro que ele é pontuado por algumas cores, ainda que escassas, mas não a ponto de salvá-lo do tédio marrom, marrom, marrom e com uma mulher de pele marrom perdida no meio. Por isso gosto muito mais das cenas externas, que são mais vivas, criativas, mais descompromissadas e que mostram Desirée em ângulos que a valorizaram. Ainda sobre as imagens feitas fora do trem, apenas gostaria de ser convencido que a foto da página 107 não é montagem. Gosto também da abertura, que achei bem adequada e provocante, e da foto do quarto, onde Desirée aparece perto da janela, que sem dúvidas é a que está mais bonita, tanto de rosto quanto de corpo. O resto é bem qualquer nota, pouco expressivo.

Fica nítido, observando as fotos, que Desirée e Marlos foram pelo caminho mais fácil, da coisa superposada, estática, com cenas duras e óbvias, em que a modelo sempre olha para a lente e se arrebita. Não dá pra condenar pois a situação necessitou de uma direção mais precisa, mas faltou mais leveza, compromisso com a naturalidade, um sorriso espontâneo, por exemplo. Falando em naturalidade, uma observação positiva: a manipulação das imagens preservou suas formas mais largas, e não a transformaram numa mulher totalmente artificial. Para minha surpresa o resultado ficou bem crível. Também observa-se um comedido afrouxamento em relação à censura na exibição da nudez. Assumiram o brazilian wax dela, ainda que apareça numa só foto. Mas é um progresso...

Resumindo a coisa toda: o ensaio é mediano, cumpre seu papel, prova que qualquer mulher, mesmo que esteja fora do padrão 90-60-90, pode aparecer bem quando bem produzida e fotografada. Mas falta presença, falta uma composição de cena um pouco mais sofisticada, falta um jogo de sedução um pouco mais sacana que transcende as poses arrebitadas para a câmera. Também passaram batidas algumas minúcias relacionadas à produção e edição final. Contudo, é importante que nós reconheçamos os fatores limitantes (Desirée Oliveira não tem experiência como modelo fotográfico, está fora de forma), e que o foco, neste caso, foi mostrar a estrela da melhor forma possível, o que pode ter sido o principal critério de escolha das fotos - mesmo que resultasse num ensaio marrom.

Imagens: Reprodução.