Ao mesmo tempo em que Playboy assume inspiração numa obra, cria um problema para si própria, pois, desta forma, a revista possibilita que haja comparação.
O ensaio de Valentina Francavilla, assinado por Luis Crispino e inspirado na Valentina da HQ erótica, de Guido Crepax, tem sofrido com críticas comparativas das mais absurdas, ao ponto de apontarem características físicas díspares entre a real e a imaginária, como se a revista tivesse a obrigação de lançar uma sósia perfeita. Os mais exagerados afirmam que o ensaio é um ultraje à Valentina dos quadrinhos, elencando as razões - mesmo que, aparentemente, tenha recorrido ao
Google Imagens para conhecer a personagem fotógrafa do quadrinista italiano. Nada mais que um show gratuito de insensatez e incompreensão, uma vez que qualquer ensaio inspirado em algo - como foi o de Leila Lopes concebido ao clima do filme
Thelma & Louise, ou então o da ex-BBB Leka, que tenta reproduzir a austeridade e imponência das pinturas de John Singer Sargent, ambos de Duran -, não é nada mais que a tentativa de roubar uma essência, e desenvolver um trabalho em cima disso, e só isso. Mesmo o de Valentina, uma reprodução literal, não deixaria de ser produzido com licença poética e liberdade. Porque, antes de mais nada, ensaios de revistas masculinas não são filmes, pinturas ou histórias em quadrinhos. Há um objetivo, uma diretriz a ser respeitada, afinal, a linguagem é outra.
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A revista viu que a chance de abordar o tema era única, inteiramente motivada pela similaridade do corte de cabelo clássico de ambas, e por possuírem o mesmo nome e nacionalidade. Além disso, o minimalismo sugerido pela HQ possivelmente significou para a direção de arte da Playboy um ensaio mais fácil de ser realizado. No entanto, havia o grande desafio de superar a monotonia e limitação de um estúdio - ensaios eróticos, compostos de situações críveis, costumam não ser compreendidos num ambiente como esse, irreal e frio. Para minha surpresa, conseguiram driblar essa dificuldade, e o ensaio não incomoda por ser vazio ou tedioso. Foi feito um sutil e eficiente trabalho de cenografia, que possibilitou que a estrela, junto da coadjuvante, a coelhinha rosa Thaíz Schmitt, evoluíssem no espaço disponível. E Crispino (cujas matérias há muito me incomodam pela falta de vida) arrematou com uma linda e reveladora luz, quando poderia ter abusado das sombras para encorpar as fotos e deixar o resultado muito mais dramático. Mais um sinal de que nossas reclamações surtiram efeito.
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Atentando-me somente à Valentina, a de carne e osso, sua gostosura valida seu merecimento de capa e derruba qualquer argumento de que ela não deveria ter sido eleita como estrela de março. Sarada, com seios lindos e traços faciais fortes, sem dúvida representa um padrão de beleza atípico em Playboy. Tenho de reconhecer, ainda, que para quem não tem experiência como modelo, fazer um début sem roupa alguma não é tarefa das mais fáceis. Valentina não expressa timidez, mostra-se à vontade, ainda que em muitas imagens apareça engessada pela direção de cena, por ter que representar uma ação - o ensaio foi condenado a isso desde a sua concepção. Também lamento pela arte do ensaio não ter sido mais inventiva - apesar de ter gostado da abertura e das bordas pretas. Decepciona também por não trazer nenhuma foto em P&B (uma mancada difícil de perdoar), enquadramentos inusitados e faltou uma dose de pimenta. Mas, de modo geral, surpreendi-me. O resultado é bem equilibrado e não se resume a uma representação caricata de uma personagem.