Thursday, June 21, 2012

Dança, Aline, dança

Aline Riscado, estrela da Playboy de junho, parece estar tendo um bom desempenho em banca, pela impressão que tive - será reflexo da divulgação feita por seu patrão, Faustão?

Depois do horror completo que foi o ensaio de Renatinha, Playboy restabeleceu sua dignidade com as fotos de Aline Riscado. Se observarmos bem, é o exato oposto do ensaio da edição de maio: é simples, sem grandes apoios e com foco na estrela. Só isso, somado à beleza de Aline, a matéria teria garantido minha aprovação, mas além disso a estrela teve uma bela performance. A liberdade dada para ela fazer o que quisesse, e mais domina, refletiu na naturalidade das fotos - Crispino, o fotógrafo responsável, parece não ter tido muito trabalho com direção. As diferentes nuances de luz usadas deram o clima certo e a locação, quase sem informação, foi suficiente para desenvolver a proposta do ensaio. Se fosse acrescentar algo, seria uma parede de espelhos, que é o que sempre lembramos quando imaginamos algo relacionado ao universo da dança - renderia bons momentos.


A foto que, para mim, seria ideal para ser usada na abertura. Pra compensar o deslize, um poema de Carlos Drummond de Andrade, que não faz ode à beleza feminina, mas exalta a arte da dança

Mas o ensaio tem seus defeitos. Me incomoda a abertura. Perderam a oportunidade de escolher uma foto com uma conotação mais poética, de apresentar o ensaio de uma forma mais romântica - e a foto ideal, pra mim, vem logo em seguida. Em vez disso uniram duas fotos desconexas, resultando numa primeira impressão confusa. A criatividade também passou longe com a escolha do título e o texto de apresentação também não é dos mais inspirados - sem dizer a fonte pau-pra-toda-obra de sempre, sem considerar a identidade/proposta visual do ensaio. Outra coisa é a produção de moda. Por incrível que pareça, o equívoco não se resume ao uso do quepe - por mais tem tentem justificar, não me convenço de que ele faz algum sentido ali -, algumas peças também soam estranhas. O que é aquele monte de pano cinza em que Aline aparece enrolada numa foto? E o corpete, nada a ver com nada? Sou sempre a favor da licença poética, mas o mínimo de contextualização é necessária.


Acima, a dupla de fotos que acho mais bonita no ensaio. Abaixo, outros dois bons momentos - a foto da direita, que mostra Aline bastante expressiva, também chama atenção pela roupa dispensável

Por fim, tenho algumas considerações a fazer sobre a abordagem do ensaio. É uma matéria atípica, porque não é constituída de momentos em que há uma proposta sexual no ar. São raros os cliques em que Aline encara a câmera. Grande parte das fotos são do tipo flagra, uma abordagem voyeur, e o que se vê não é uma mulher em momentos íntimos, é só uma bailarina nua - é tudo tão natural que quase não se nota o teor erótico. Se a mim fosse incumbida a missão de editar o ensaio, teria tentado mesclar mais os momentos de dança e alongamentos, que são esteticamente perfeitos, com os que há olhares e insinuações para a lente. Também há a questão da nudez clara. Apesar de ter gostado da forma com que algumas fotos foram diagramadas (menores, deslocadas à margem das páginas), não teria escolhido uma foto que despertasse o desejo de ser vista em página inteira (a da página 97). Nesse quesito, a foto da página 98 e 99 salva a pátria, porque o resto insinua o comedimento habitual. Apesar disso, o ensaio é bonito e merece os elogios que vem recebendo.


Imagens: Reprodução.