Monday, September 19, 2011

Edição 436

Lendo a Playboy de setembro, lembrei de um slogan criado por uma leitora da revista no final dos anos 70, e que descobri recentemente: "Playboy despe o corpo e veste a cabeça". No mesmo momento, pensei em quanto a revista foi importante para meu desenvolvimento intelectual, e como o conteúdo da revista hoje deixa a desejar nesse sentido. Não, a revista não está propriamente ruim, e a seguir comentarei seus principais destaques. Mas falta consistência, falta conteúdo enriquecedor. Com isso não quero comparar com a revista editada por Mário de Andrade, dizer que já não é a mesma - e não é mesmo - etc. A atual gestão tem o mérito de ter reconstituído o padrão de qualidade Playboy depois de ter sido convertida em lixo total por Cynthia de Almeida e de não ter sido completamente reestruturada (acredito que em função do pouco tempo) por Rodrigo Velloso. Então, já concluindo nessa pequena introdução, só falta à Playboy atual apresentar mais conteúdo que agregue e seja atemporal. Assim como as ficções de Dias Gomes, Dalton Trevisan e Fernando Sabino que sempre releio, com todo o prazer - e olha que foram publicadas há 30 anos.

A edição de setembro traz o já tradicional Especial Música, que, desta vez, só oferece entrevistas com cantores, sem nenhuma reportagem sobre o assunto, nada. Para o entrevistão, o escolhido foi Nando Reis, o ex-Titã, cantor e compositor de longa data. Como eu sempre digo, a motivação para a leitura é sempre baseada em nosso interesse pela personalidade, seja por identificação, admiração ou por quanto a consideramos relevante. Nando Reis, confesso, não é quem eu mais gostaria que fosse sabatinado. Mas, ao dar chance à entrevista, muito bem conduzida por Jardel Sebba, você é tocado pela sinceridade de Nando, que falou sobre sua infância, carreira e boatos sobre a sua bissexualidade. Passando para as 20P, Latino foi entrevistado por João Pedro Jorge. Como cabe à seção personalidades populares rasas, não há motivo para sua presença na edição ser condenada. Mas é aquilo: bobagem do começo ao fim. O intérprete de Festa no Apê falou sobre mulherzZzZzZ...

A Nova Revolução Sexual foi uma boa surpresa. De cara, achei que seria mais-do-mesmo, mais uma daquelas pautas sobre sexo que pouco tem a apresentar de novo. Me enganei. Essa reportagem, feita por Adriana Negreiros, Bruno Lazaretti e Camila Gomes foi muito feliz ao tratar sobre o comportamento da sociedade contemporânea, que experimenta novas maneiras de amar, de consumir e fazer sexo e que tem prazer em se expor, onde o meio e o estímulo para isso é a internet. Acompanhando o texto há excelentes fotos das pessoas que deram seus depoimentos, de Gabriel Rinaldi, e o visual da reportagem, que ficou ótimo, é de Thaís dos Anjos. E outro ponto alto da edição é a publicação exclusiva de um capítulo da biografia do cineasta Glauber Rocha, cuja autoria é do sempre presente Nelson Motta. Glauber Entre Deus E O Diabo narra acontecimentos ocorridos durante a filmagem de Deus E O Diabo Na Terra do Sol, de 1963. Um ótimo petisco do livro.

Além disso, há o artigo O Fabuloso Método Nicolas Cage Para Ir À Falência, por Steven Chean, e as seções de sempre. Tem texto sobre Rihanna abrindo Neurônios, por Hélio de la Peña, e quadrinhos de Arnold Roth em Playtimes. O editorial de moda, criativo, com fotos de Paulo Mancini, brinca com sleeveface, que incorpora capas de discos às cenas, mas tenho a impressão que a real função do editorial ficou em segundo plano, já que as roupas não foram bem apresentadas e não sugerem um estilo específico. Enfim, uma boa edição, com qualidade de pauta e texto, mas peca em quantidade - só uma reportagem produzida é insuficiente para uma revista como a Playboy. As lacunas, volto a dizer, poderiam ser preenchidas com ficção - que deveria ter em todas as edições - e colunas fixas.

Imagens: Reprodução.