Wednesday, September 14, 2011

A proposta tentadora


A minha história com a revista Playboy começou em fevereiro de 1987. Eu era apenas um garoto com uma curiosidade imensa de ver a deusa Maitê Proença nua e com alguns trocados para gastar na escola. Não tive dúvida: fiquei sem comer para poder degustar a Dona Beija com todo o prazer do mundo. Folhear aquela revista era o pecado mais gostoso que eu cometera na minha vida. Naquele tempo não era tão comum ter acesso a fotos de mulheres nuas, não existia internet e, no interior, as bancas de jornal eram escassas.
O meu primeiro contato com a Playboy não poderia ter sido melhor. Maitê era a mulher mais desejada da época e era apresentada num suplemento especial com todo requinte que uma grande estrela merece ter. Os cliques de JR Duran eternizaram uma das capas mais vendidas de toda a história da revista e eu, como não poderia deixar de ser, me apaixonei pela revista. Depois desse primeiro contato, comecei a comprar esporadicamente a Playboy e experimentar a sensação de degustar as mais belas mulheres que apareciam na capa da revista a cada mês.
Tempos depois, já maior de idade, passei a comprar todas as edições da revista. Não tinha mais a sensação do coração disparando por estar fazendo algo errado, mas tinha ainda o gosto de ter nas mãos as mulheres mais desejadas do Brasil. No início da década de 90, deliciei-me com a nudez da musa dos programas infantis, Mara Maravilha; enlouqueci com a Bruna Lombardi em fotos maravilhosas e descobri os segredos da Juma Marruá – Cristiana Oliveira. Nesta mesma década, mais precisamente em agosto de 1996, ainda teria o prazer de ver a nudez de Maitê Proença, num raro momento de ousadia e entrega da atriz na Sicília, sob a câmera do fotógrafo Bob Wolfenson.
Nesse período, já estava em São Paulo, fazendo o curso de Letras. Nos momentos de folga, visitava bancas e sebos do centro da cidade com o intuito de conseguir edições anteriores. A minha intenção era a de ter todas as edições, desde a rara revista nº 1, de agosto de 1975. Foram anos de procura e cada nova aquisição era muito comemorada. Nessas peregrinações que contavam com a ajuda da internet, fui conseguindo, uma a uma, montar toda a minha coleção. Comemorei as edições com Sônia Braga, Betty Faria, Vera Fischer, além de outras com as estrelas das novelas e da música; desembolsei uma verdadeira fortuna pela edição da Xuxa e sofri para conseguir as revistas com Cláudia Ohana e com Lucinha Lins. Quanto mais antigas, mais comemoradas eram as aquisições. Verdadeiras raridades eram descobertas nos sebos ou nos sites da internet. Pouco a pouco, consegui as edições anteriores a 1978, ainda com o nome “Homem”. Destas, as últimas a comporem a minha coleção foram: a número 1 e as edições de outubro e novembro de 1976. Pronto! Tinha nas mãos, literalmente, as mulheres mais desejadas do mundo e o orgulho de ver a minha coleção completa.
Nesses anos todos, passei por algumas provações. Estava fazendo Mestrado na PUC-SP, sem dinheiro algum para pagar a mensalidade do curso, quando recebi uma proposta de venda da coleção. O pretenso comprador me ofereceu R$ 25.000,00 e, claro, fiquei tentado a vender minhas revistas. Aquele dinheiro me faria bem e me ajudaria a concluir o curso. Pensei uma, duas, três... pensei várias vezes e desisti da venda. Dinheiro eu conseguiria, juntar a coleção de novo, seria bem mais difícil. Naquele período, decidi unir o útil ao agradável e montei um projeto de pesquisa com um nome pomposo: “A paráfrase e a correção como elementos de retextualização nas entrevistas da revista Playboy”. Com esse projeto, ganhei uma bolsa de estudos e passei a fazer o Mestrado sem pagar absolutamente nada. Além das alegrias óbvias, a Playboy me ajudou a conquistar o meu título de Mestre em Língua Portuguesa.
Depois desse percurso todo, eu me apresento: sou o Adilson Silva Oliveira, 37 anos, colecionador da Playboy, roteirista de cinema e professor titular de Linguística e Literatura Brasileira, na Universidade Paulista – UNIP-SP.