Friday, August 5, 2011

Arrancando pelos e fomentando polêmicas

Dois cliques da polêmica cena: uma delas, mais ousada, foi parar na francesa Photo

Pode-se afirmar, sem medo de ser contestado, que a foto em que Adriane Galisteu aparece se depilando é a mais marcante da história da Playboy. E polêmica. A ação, que faz parte da rotina das mulheres - daquelas que, claro, dispensam a cera quente -, é praticada em momento de extrema intimidade. Mulher nenhuma costuma se expor assim, tão vulnerável. A grande sacada da foto é essa, de caráter subjetivo, da impressão que cada um tem quando observa a foto, o olhar voyeur, mais do que uma ousadia em relação a nível de exposição da nudez. Duran, o idealizador da foto, sabia disso. A ideia, segundo ele, veio enquanto fazia a barba com um aparelho feminino, por não ter outro à ocasião. Em seguida, sugeriu à modelo, que não topou imediatamente. Mas voltou atrás.

Especula-se que esta foto de Bianca Jagger, por Andy Warhol, pode ter servido de base para a inspiração de Duran

Ricardo Setti, diretor de redação à época, conta, num texto delicioso em seu blog, sobre o momento em que Duran tentou convencer Adriane a fazer a foto. Em resposta à resposta negativa da estrela dos 20 anos de Playboy, o fotógrafo disse que, tudo bem, executaria a ideia em outra ocasião e com outra pessoa. Adriane digeriu aquilo durante algum tempo até que, segura e esperta, disse que faria. E deu no que deu. Além de a edição ter sido sucesso absoluto de vendas, atingindo uma marca de exemplares vendidos até então inédita, a foto foi considerada o escândalo sexual do ano. Não teve uma só pessoa que ficou indiferente à imagem. Muitos gostaram, elogiaram a qualidade estética da cena e seu teor erótico, enquanto outros fizeram-na como alvo de críticas indecorosas.

A abertura da reportagem sobre a polêmica causada pela foto, ilustrada por Tide Hellmeister

A imagem rendeu tanto que a própria revista pôs-se a entender a polêmica. Em dez/95 foi publicada uma reportagem de Marcos Emílio Gomes, de título mais que adequado, O Escândalo Sexual do Ano, em que mostra os mais variados pontos de vista sobre a mesma imagem, com declarações diversas, como de Flávia Monteiro, que disse que não faria uma foto igual. Luana Piovani, autêntica, concluiu ser uma foto audaciosa. Ainda na reportagem, colocaram em xeque a cena, inverossímil, por mostrar Adriane de camisa e salto, depilando-se no sofá com quadros acima da cabeça. A própria Adriane é quem encerra a questão com um argumento considerável: "Todo ensaio de nu pressupõe fantasias. Seria até incompreensível alguém exigir coerência num trabalho desses". Duran, sempre comedido, porém certeiro, disse objetivamente: "Fi-lo porque qui-lo". Além de outras opiniões, ácidas ou não.

O sucesso da foto inspirou "releituras" posteriores, com direito a versão molhada e a seco

Depois de tanto tempo, a imagem já não choca. Não é que tenha perdido sua força, apenas não enxergamos escândalo onde realmente não há escândalo. De certa forma evoluímos, encaramos as coisas com mais naturalidade, ao mesmo tempo em que tudo já foi banalizado. Até a tal foto da depilação de Adriane. Copiado à exaustão pelas edições de Playboy de todo o mundo, assim como foi "relida" por outras modelos e fotógrafos brasileiros, o ato, retratado pela câmera fotográfica, hoje parece tão suave e comum quanto ver alguém chupando uma bala. E essa constatação é dela mesmo, de Adriane, que 16 anos depois aceitou refazer a simbólica e inesquecível imagem. Tivemos o desprazer de vê-la sem que permitíssemos, é verdade, mas ainda tenho esperanças de, outra vez, ser hipnotizado pela cena. Cena que muitos homens nunca viram suas mulheres realizando.

Imagens: Reprodução.